Georges Rémi
(Hergé)
Bélgica
(1907-1983)


Hergé (pseudónimo formado pelas primeiras letras de Georges Rémi), é o criador/autor belga do jovem repórter Tintin, um dos mais populares e famosos heróis da banda desenhada mundial. Hergé é, frequentemente, considerado o artista europeu de banda desenhada mais influente e importante do século XX. O seu famoso estilo conhecido por "linha clara", cuja respectiva escola e movimento artístico nasceu em Bruxelas, foi copiado por muitos outros artistas do seu tempo.

Georges Rémi nasce em Bruxelas, na Bélgica, a 22 de Maio de 1907. Em 1920, inicia os seus estudos no colégio "Saint-Boniface", em Bruxelas. No ano seguinte, tal como muitos outros rapazes da sua idade, entra para os escuteiros católicos, cuja experiência influenciou grandemente a sua personalidade e onde recebe a alcunha de "raposa matreira". Os seus primeiros desenhos aparecem, em 1923, na revista mensal dos escuteiros belgas denominada "Le Boy-Scout", e a partir de 1924, começa a assinar os seus desenhos com o pseudónimo Hergé.

Em 1925, após terminar os estudos, Georges Rémi é convidado para trabalhar como colaborador no departamento/secção de assinaturas do jornal belga católico "Le Vingtième Siècle", em particular do suplemento infanto-juvenil daquele jornal, chamado "Le Petit Vingtième", onde fica responsável pelo serviço de assinaturas. Um ano depois, o padre Abbé Wallez, o editor-chefe do jornal "Le Vingtième Siècle", convida Hergé para trabalhar como ilustrador no suplemento semanal "Le Petit Vingtième".
Em 1926, Hergé inicia a sua carreira artística, criando, para a revista Le Boy-Scout", o personagem/herói "Totor", um exemplar chefe de patrulha de escuteiros, considerado um primeiro esboço e um precursor de Tintin, sendo este, de facto, frequentemente comparado com o estereótipo do escuteiro.

Em 1927, Georges Rémi cumpre o serviço militar, e quando, no ano seguinte, regressa a Bruxelas, é nomeado editor-chefe do "Le Petit Vingtième". O primeiro número deste suplemento, já com Hergé como editor-chefe, é publicado a 1 de Novembro de 1928.

A 10 de Janeiro de 1929, Hergé cria o famoso repórter Tintin, cuja primeira aventura aparece publicada, pela primeira vez, naquele suplemento, com o título "No País dos Sovietes". Esta primeira aventura de Tintin é publicada em álbum, em 1930. Em breve, esta série europeia, pioneira de aventuras, alcança um imenso sucesso, com um enorme acolhimento por parte do público leitor. Em 1934, a editora francesa Casterman torna-se na editora oficial dos álbuns de Tintin.

O nome de Hergé ficará para sempre ligado ao repórter belga mais famoso do mundo, Tintin. Mas nem só Tintin criou Hergé. Em 1930, Hergé cria os personagens Quick et Flupke (Quim e Filipe), duas crianças belgas, marotas e travessas, cujas histórias curtas aparecem publicadas no "Le Petit Vingtième". Em 1936, Hergé cria, para o semanário francês "Coeurs-Vaillants", um novo conjunto de personagens, Jo, Zette et Jocko (Joana, João e o macaco Simão), tendo sido publicadas cinco aventuras destes heróis.

Em 1939, como resultado da posição tomada a favor do povo chinês contra a invasão por parte do Japão, no álbum "O Lótus Azul", Hergé é convidado a visitar a China; contudo, com a iminência do despoletar da guerra na Europa, essa viagem não se concretiza.

Em 10 de Maio de 1940, a Bélgica é invadida pelas tropas alemãs, fazendo com que o jornal "Le Vingtième Siècle", assim como o seu suplemento "Le Petit Vingtième" deixem de existir. Porém, Hergé continua a série Tintin, publicada, desta vez, no jornal "Le Soir", um dos únicos jornais autorizados a circular durante a ocupação alemã, embora debaixo da estreita e apertada vigilância e supervisão alemãs, começando a produzir a aventura "O Caranguejo das Tenazes de Ouro".

Em 1942, a editora Casterman começou a planear a edição de álbuns standardizados, contendo 64 páginas a cores, tendo para tal pedido a Hergé para este começar a adaptar previamente os episódios da série e a ajustá-los a este novo formato.

A 3 de Setembro de 1944, a libertação da Bélgica fez terminar a publicação das aventuras de Tintin no jornal "Le Soir". A propósito, uma das razões pelas quais Hergé foi, durante muito tempo, "persona non grata" na Bélgica, teve a ver com o facto de algumas pessoas considerarem que a publicação dos seus trabalhos num jornal controlado pela ocupação alemã fazia de Hergé um colaboracionista dos alemães. Outro aspecto da inexactidão e indefinição políticas de Hergé prende-se com as suas primeiras histórias de Tintin, as quais contêm uma parte clara e distinta de estereótipos racistas, de certa forma, desagradáveis e ofensivos.

A 26 de Setembro de 1946, Hergé, em parceria com Raymond Leblanc (um lutador da resistência francesa), fundam a revista belga Tintin, uma nova publicação semanal de histórias de banda desenhada em continuação, criada para o público juvenil. Com o decorrer dos anos, esta publicação evoluirá para uma crescente e enorme popularidade, na qual, durante um certo período, Hergé exerce o cargo de director literário.

Em 1950, Hergé funda os seus próprios estúdios, socorrendo-se de vários colaboradores e assistentes para o auxiliarem no trabalho exigente e desgastante que tinha para fazer. Com efeito, apesar de ser um viciado e apaixonado pelo trabalho, Hergé não conseguia fazer sozinho todo o trabalho necessário, especialmente o trabalho de reimpressão de Tintin (o qual era redesenhado e colorido) que era demasiado exigente para ser apenas ele a fazê-lo.

Ainda nesse mesmo ano, Hergé inicia a produção da aventura "Explorando a Lua", a qual requereu, da sua parte, um trabalho cuidadoso e detalhado do ponto de vista técnico, com uma grande precisão e rigor documental e uma elevada atenção a todos os pormenores. Hergé era um defensor convicto da importância da construção detalhada e rigorosa de uma história e da total necessidade de pesquisa e preparação da mesma.

Os principais colaboradores e assistentes dos estúdios de Hergé eram, entre outros, Bob de Moor, Jacques Martin, Roger Leloup e Edgar Pierre Jacobs. Estes artistas aprenderam, nos seus estúdios, grande parte das técnicas e segredos do ofício da 9ª arte, tendo mais tarde, todos eles, iniciado uma carreira individual de sucesso, criando as suas próprias séries e personagens de banda desenhada.

Entretanto, com o passar dos anos, Hergé começa a sofrer, cada vez de forma mais frequente e acentuada, de crises de depressão e, gradualmente, o tempo entre cada nova aventura de Tintin aumenta. Enquanto, por exemplo, as aventuras de "Tintin no Tibete" (1958) e "As jóias de Castafiore" (1961) são consideradas como os seus melhores trabalhos, ao invés, o seu último álbum, "Tintin e os Pícaros" (1975), é geralmente visto e tido como o seu pior trabalho.

Em 1960, Tintin é adaptado ao cinema. O actor belga Jean-Pierre Talbot faz a personagem de Tintin em "Tintin e o Mistério do Tosão de Ouro". Este mesmo actor reaparece, em 1964, em "Tintin e as Laranjas Azuis".

Em 1971, na sua primeira visita aos EUA, Hergé encontra alguns nativos (índios) americanos.

Em 1973, a editora Casterman edita o primeiro volume dos "Arquivos de Hergé". Assim, desta maneira, o mítico repórter Tintin, do "Le Petit Vingtième" ("No País dos Sovietes"), reaparece passados mais de 40 anos. Em 1974, Hergé visita Taiwan, 35 anos após o convite oficial que lhe foi feito.

Em 1976, a televisão transmite o filme-documentário "Eu, Tintin", dedicado ao herói e ao seu criador. Em 29 de Setembro desse mesmo ano, uma estátua de bronze de Tintin e Milou é inaugurada em Bruxelas.

Em 1979, o americano Andy Warhol, "Rei da Arte-Pop", faz uma série de quatro retratos de Hergé. Nesse mesmo ano, o 50º aniversário de Tintin é comemorado um pouco por todo o mundo. Mais especificamente, o aniversário do herói favorito de Hergé é mais notavelmente celebrado através de um selo de correio impresso e posto a circular pelos serviços postais belgas, assim como a inauguração do "Museu Imaginário de Tintin".

Em 1982, para celebrar o 75º aniversário de Hergé, a Sociedade de Astronomia Belga baptizou uma descoberta recente de um asteróide com o nome "Hergé", o qual está localizado entre Marte e Júpiter.

A morte de Hergé, a 3 de Março de 1983, foi notícia em todo o mundo. O seu último trabalho "Tintin e a Alph-Art" foi editado a título póstumo, não tendo sido concluído, encontrando-se, aquando da sua morte, na forma de esboço e rascunho. As investigações e estudos aprofundados à vida e obra de Hergé têm-se sucedido a grande ritmo desde a sua morte até aos dias de hoje, sendo uma fonte inesgotável de trabalhos que procuram analisar a sua obra no contexto da época em que viveu e, em particular, o herói Tintin.

Hergé deixa para a posteridade e para as gerações vindouras um legado inigualável e uma herança riquíssima, traduzida, sobretudo, em 23 aventuras inesquecíveis do herói mítico e intemporal Tintin.

Contribuição de Alexandre Ribeiro