Excerto da capa do 1º álbum de Corentin:

CORENTIN
BRETÃO, JOVEM ORFÃO
(SÉCULO XVIII)



Influenciado, na sua juventude, pelas histórias de "Robinson Crusoe" de Daniel Defoe e de "Corentin Quimper" de Paul Féval, Paul Cuvelier cria, em 1943, a personagem de Corentin Feldoe. Este aparece, pela primeira vez, numa sequência de aguarelas que compõem uma pequena caderneta elaborada por Cuvelier. O seu novo herói Corentin, que vive no século XVIII, é um jovem orfão, bretão de origem, que decide fugir de casa do seu tio, um bêbado inveterado que o maltrata e castiga constantemente. Corentin embarca, então, a bordo de um barco que está de passagem por ali, e vai viver algumas aventuras e peripécias até ao súbito e imprevisto naufrágio da embarcação, escapando, porém, com vida, e indo ter a uma ilha. Aí encontra um gorila (Belzebú) e um tigre (Moloch), dos quais se torna amigo. Mais tarde, conhece e trava amizade com um pequeno rapaz hindu, de nome Kim e com uma pequena e bonita rapariga, a princesa Saskya.

Entretanto, Hergé, impressionado e entusiasmado com essas aguarelas de Paul Cuvelier, consegue convencê-lo a contar e a ilustrar, em banda desenhada, essa maravilhosa história de Corentin. A personagem de Corentin faz, assim, a sua estreia no primeiro número da revista "Tintin", a 26 de Setembro de 1946. Em 1949, o editor Raymond Leblanc sente vontade de publicar também uma história do género Western na revista "Tintin". Faz a proposta a Paul Cuvelier, o qual a aceita com a condição de incluir aquele género nas aventuras de Corentin, não desejando, portanto, criar uma nova personagem. Assim, a fim de "transportar" Corentin da Índia para a América e introduzi-lo numa história que se desenrola no século XIX, Cuvelier imagina que este "Corentin do Western" é o neto do jovem bretão Corentin Feldoe, escrevendo ele próprio o argumento da história.

As edições du Lombard decidem, a partir de 1950, editar as melhores histórias da revista "Tintin". Os dois primeiros álbuns publicados são "O Segredo do Espadão", uma aventura de Blake e Mortimer de Edgar Pierre Jacobs e "A Extraordinária Odisseia de Corentin Feldoe", sendo o sucesso editorial imediato. Depois de alguns anos de interrupção, Paul Cuvelier retoma, em 1958, o seu herói Corentin, contando com a colaboração de Greg e de Jacques Acar e, a partir de 1968, de Jean Van Hamme, nos respectivos argumentos. A última história de Corentin é publicada em 1973, com o título "O Reino das águas negras". Apesar da aversão que, nessa época, Cuvelier já sente pela banda desenhada, este decide ainda continuar nesta actividade, embora por pouco tempo. Ainda em 1973, Paul Cuvelier começa a ilustrar a história "Corentin e o gigante ruivo", com a colaboração de Jacques Martin na escrita do argumento. No entanto, depois de algumas pranchas produzidas, Cuvelier abandona definitivamente a banda desenhada, deixando, assim, esta história inacabada. A título de curiosidade, refira-se que Jacques Martin irá, mais tarde, aproveitar este argumento inacabado para a futura história de um álbum do seu herói Alix, com o título: "As presas do vulcão".

Após a morte de Paul Cuvelier, as edições du Lombard publicaram duas reedições dos álbuns de Corentin. A primeira, em 1978, suscitou uma grande decepção, uma vez que a colocação de uma cor penetrante e sem tonalidade prejudicou e afectou os traços do desenho, perdendo-se toda a magia e todo o cuidado posto nas pranchas originais. A segunda, em 1992, não restituiu as cores originais mas, mesmo assim, a colocação da cor foi tratada convenientemente, mostrando-se mais subtil e discreta, respeitando o desenho.

Em 1993, os estúdios Belvision dão nova vida a Corentin, projectando-o nos écrans da televisão. A realização do filme foi confiada a Vivian Miessen e o argumento a Jean Van Hamme, o qual se esforçou por preservar o espírito dos álbuns de banda desenhada.

Contribuição de Alexandre Ribeiro