PRÍNCIPE VALENTE
(1937)
"NO TEMPO DO REI ARTUR"
(BRETANHA - SÉCULO V)
O Príncipe Valente é o cavaleiro mais famoso da banda desenhada. Foi criado por Harold Rudolf Foster, um artista e contador de histórias de talento excepcional e inspiração elevadíssima, e as suas aventuras começaram a publicar-se a 13 de Fevereiro de 1937 nas enormes páginas coloridas dos suplementos de fim-de-semana dos jornais americanos. O herói foi-nos então apresentado como uma criança, mas, coisa que nas outras bandas desenhadas de aventuras não era possível, pudemos assistir ao seu crescimento, ao seu casamento e ao nascimento dos seus filhos, num percurso próprio de qualquer ser humano. Já as suas aventuras, situadas num limiar da Idade Média fabuloso, levaram-nos por mundos que no século V não eram acessíveis a quase nenhum comum mortal.
Pela sua experiência como ilustrador de publicidade, Foster concebeu a sua criação não como uma simples história aos quadradinhos mas sim como uma história em quadros, sem contudo cair na armadilha de esquecer que a banda desenhada é uma arte sequencial. O resultado, de imagens belíssimas e meticulosamente trabalhadas, contando visualmente o que as concisas legendas calavam, foi uma verdadeira inovação, até na dispensa que fazia do recurso aos balões com falas. Rapidamente o autor abandonou as incursões na fantasia e, enveredando por um acentuado realismo de tocantes momentos intimistas em que reflectia as suas vivências, desenvolveu uma série de aventuras ímpar, adulta como quase nenhuma outra no seu tempo.
Muito justificadamente, as pranchas de Prince Valiant foram as únicas que depois dos anos 40 nunca deixaram de ocupar páginas inteiras de jornal, mas no início dos anos 70, logo que Hal Foster deixou de as desenhar e passou a tarefa a John Cullen Murphy, perderam espaço e distinção. A série não dá hoje a mínima ideia da sua glória passada e é nesta que se sustenta ainda a sua popularidade.
Contribuição de Manuel Caldas
No dia 13 de Fevereiro de 1937, nascia oficialmente um novo herói, de seu nome, "Príncipe Valente", o cavaleiro mais famoso da banda desenhada mundial. As aventuras deste herói foram criadas por Harold Foster, um artista de talento excepcional e um fantástico contador de histórias.
No início daquele ano, Harold Foster passara a trabalhar para a famosa agência de imprensa "King Features Syndicate", dirigida por Joe Connolly que o havia convidado a criar um novo herói de banda desenhada para a sua agência. A partir daquela data histórica, as aventuras de "Príncipe Valente" passam a ser publicadas, todos os fins de semana, em suplementos de vários jornais americanos.
Esta banda desenhada rapidamente se destaca, entre outros aspectos, pelo facto de ser desenhada no formato de página inteira com textos no rodapé das imagens, as quais são desenhadas de forma extremamente cuidada em folhas de grande formato, com um fantástico sentido de pormenor, de composição e de pesquisa documental. Com efeito, o desenho é profundamente realista, rigoroso e minucioso, ilustrando e descrevendo paisagens e vistas panorâmicas fabulosas, assim como cenas de combates e batalhas, que têm tanto de majestosas como de violentas.
Cronologicamente, as aventuras de "Príncipe Valente" situam-se no início da Idade Média, em pleno século V, e estas aventuras enquadram-se dentro do género de epopeia medieval. Nesta extraordinária série de aventuras fantásticas e épicas de cavalaria, "Príncipe Valente", filho do Rei de "Thule", combate os Hunos e os Saxões, vive aventuras por mares e terras distantes, chegando até ao Novo Mundo (América). Nos primeiros tempos, quando desembarca na Bretanha, "Príncipe Valente" chega ao "Reino de Camelot", passando a viver na corte do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda.
O herói imaginado e idealizado por Harold Foster é um príncipe, mais tarde feito cavaleiro, solitário por natureza, em busca de um destino e de uma forma de perfeição, simbolizada pela procura incessante do "Graal". "Príncipe Valente" irá, assim, viver uma vida recheada de aventuras, emoções e perigos. A sua existência e conduta irá reger-se por um estrito código de honra onde a coragem e a bravura são acompanhadas pela inteligência e, sobretudo, por um inabalável sentido de justiça e humanidade.
Chegados aqui e, antes de nos alongarmos mais, convém situar, historicamente e mais em pormenor, o início desta série. Assim, apetece dizer que, como em qualquer outra história, esta fantástica saga e epopeia começa com o habitual "Era uma vez...".
Era uma vez um guerreiro chamado Sligon que trai o seu Rei, Aguar de "Thule", pretendendo destroná-lo e ocupar, pela força das armas, o trono. Para isso, Sligon trava com o Rei um combate do qual sai vencedor. O legítimo Rei vê-se, assim, afastado, de forma brutal e cruel, do seu reino. Vendo o seu trono ser usurpado, de forma traiçoeira e ilegítima, por Sligon, não resta outra alternativa a Aguar a não ser fugir com a sua esposa e o filho de 5 anos, o jovem Príncipe Val, juntamente com um punhado de fiéis seguidores.
O traidor Sligon sabe que, a partir daquele momento, não pode viver descansado sobre o trono usurpado enquanto o Rei Aguar ou o "Príncipe Valente" viverem para lutar e tentarem reconquistar aquilo que é seu por direito. O Rei Aguar de "Thule" e a sua família desembarcam, então, na Bretanha, ficando aí exilados por tempo indeterminado. O jovem príncipe passa a sua infância nos charcos bravios, aprendendo a destreza do caçador e a arte da sobrevivência. Aí conhece Sir Gawain, iniciando-se, desde logo, uma forte amizade entre os dois que durará toda a vida. Os dois novos amigos cavalgam até ao "Reino de Camelot" e ali vão passar vários anos em treino árduo na arte e técnica da cavalaria.
Em Camelot, "Príncipe Valente" oferece os seus préstimos ao Rei Arthur, a quem servirá até ao fim da vida. Entretanto, o nosso herói inicia-se nas regras e segredos da cavalaria, vindo a tornar-se mais tarde Sir Valente, cavaleiro da Távola Redonda. A seguir, empreende a reconquista do "Reino de Thule", de onde a sua família havia sido obrigada a fugir para se refugiar e exilar nos territórios pantanosos e insalubres da Bretanha. A partir daí, "Príncipe Valente" viaja pelo mundo vasto e imenso, violento e perigoso, em busca de aventuras e emoções, travando mil e uma batalhas épicas, derrotando exércitos e guerreiros e oferecendo o seu escudo e espada a causas nobres.
Entretanto, "Príncipe Valente", numa das suas viagens por paragens longínquas, conhece a rainha das Ilhas Brumosas, a bela Aleta com quem se apaixona e casa, nascendo, desta relação, quatro descendentes, o primeiro dos quais se chamará Arn. Apesar de casado, "Príncipe Valente" continua a viajar pelo mundo, embora regresse sempre a casa, onde recupera, durante longos períodos, das feridas e do cansaço provocados por uma vida repleta de aventuras e de perigos.
Harold Foster desenhou, aproximadamente, um total de 1800 páginas semanais desta extraordinária série, durante 34 anos, entre 1937 e 1971. Na primavera de 1971, Harold Foster cede oficialmente o lugar a John Cullen Murphy, que continua a série, mas sem a elegância e o esplendor do desenho de Foster. No entanto, Foster continuará a acompanhar de perto a evolução da série até à prancha dominical de 10 de Fevereiro de 1980, quando já contava com 88 anos de idade, vindo a falecer no ano seguinte.
As aventuras de "Príncipe Valente" marcaram uma época no panorama da banda desenhada, quer americana quer mundial, e apaixonaram gerações de leitores de todo o mundo ao longo do século XX.
Hoje em dia, esta série de banda desenhada continua a despertar um interesse sempre renovado por parte
de novos e velhos leitores e admiradores deste género de aventuras. Para a posteridade e para as gerações
vindouras, "Príncipe Valente" ficará, certamente, como um dos maiores heróis de
sempre da história da banda desenhada mundial.
Contribuição de Alexandre Ribeiro