Jean Van Hamme (Le Lombard, 1999)

JEAN VAN HAMME
BRUXELAS, BÉLGICA
(16/01/1939 - ???? )

Nascido em 1939, em Bruxelas (Bélgica), Jean Van Hamme é um dos grandes autores da banda desenhada franco/belga e um dos argumentistas mais importantes e conhecidos no panorama actual da banda desenhada europeia. Com efeito, actualmente, Van Hamme é considerado um mestre na especialidade de criação e escrita de argumentos, tendo produzido, até hoje, séries de grande sucesso, das quais se destacam, "Thorgal", "Largo Winch" e "XIII". Contudo, inicialmente, a carreira de escritor e argumentista de banda desenhada não fazia parte dos seus planos nem estava nos seus horizontes mais próximos, não sendo, sequer, uma preferência ou vocação da sua juventude, embora, desde jovem, gostasse muito de contar e escrever histórias, mas não em banda desenhada.

Após uma brilhante conclusão do curso de Engenharia Comercial, na Escola de Comércio "Solvay", na Bélgica, (mais tarde conclui também o curso de Jornalismo, bem como estudos em Economia Política), Jean Van Hamme inicia uma carreira na área de "Marketing", trabalhando para várias multinacionais, nomeadamente para a "Philips-Belgique".

Ao mesmo tempo que exerce esta actividade, começa a escrever as suas primeiras histórias de banda desenhada, entre as quais, a escrita do argumento da aventura erótica e mitológica "Epoxy", cuja heroína é criada e desenhada por Paul Cuvelier, em 1968. Na verdade, estes dois autores haviam-se conhecido em 1966, tendo Cuvelier, nessa altura, convidado e convencido Van Hamme a escrever aquela história.

A partir desse momento, a carreira de Jean Van Hamme está definitivamente lançada. A seguir, escreve, ainda com ilustração de Cuvelier, duas histórias da série "Corentin": "O príncipe das areias", em 1969 e "O reino das águas negras", em 1973. Van Hamme também esteve envolvido e participou na adaptação das aventuras de "Corentin" na forma de curtas séries de animação, para os estúdios "Belvision".

Entretanto, para além da escrita de argumentos de banda desenhada, desde 1965 que Van Hamme escreve igualmente histórias e romances para várias revistas, romances esses dos quais se podem destacar os seguintes títulos: "As bandoleiras", "Má sorte", "Gata" e "O olho do sol".

No início da década de 70, Jean Van Hamme associa-se, definitivamente, a alguns dos melhores desenhadores da altura, e cria algumas das maiores sagas contemporâneas de banda desenhada. Assim, após escrever algumas histórias da série "M. Magellan", em 1969 e 1970, com ilustração de Géri, Van Hamme começa a colaborar, de uma forma regular, para a famosa revista "Tintin".

A partir de 1976, ano em que abandona definitivamente a sua actividade na área do "Marketing", Jean Van Hamme passa a dedicar-se, quase exclusivamente, à banda desenhada, decidindo consagrar-se inteiramente à escrita de argumentos. Seguem-se, assim, várias séries de banda desenhada e a respectiva colaboração com diferentes artistas. Durante a década de 70, as principais produções de Van Hamme como argumentista, incluem as seguintes séries: a série "Dominó", com ilustração de André Chéret (série escrita inicialmente por Greg); a série de aviação "Michael Logan", com ilustração de André Beautemps; a série "Arlequin" e "História sem herói", ambas desenhadas por Dany; a série "Tony Stark", com ilustração de Edouard Aidans. Van Hamme escreve, ainda, cerca de uma dezena de histórias de "Gaston Lagaffe", com ilustração de André Franquin e também escreve cerca de vinte histórias de "Modeste e Pompon", com ilustrações de Attanasio, primeiro e de Mittei, a seguir.

Com a criação da série "Thorgal", em 1977, Jean Van Hamme obtém o seu primeiro grande sucesso de banda desenhada. Ilustrado por Grzegorz Rosinski, "Thorgal" não é apenas uma série histórica vulgar sobre um grupo de Vikings. Com efeito, as aventuras de "Thorgal" integram, simultaneamente, vários géneros: os mitos e lendas dos Vikings, o terror/horror, a ficção científica, o "suspense" e o maravilhoso/fantástico. De facto, integrando de forma hábil e imaginativa diversos cenários e elementos fantásticos, esta série revela-se, acima de tudo, uma autêntica fantasia heróica, onde o "sopro" da narrativa e o poder dos desenhos são a chave do seu sucesso, o qual é, aliás, confirmado pelos 26 (!) álbuns publicados, até ao momento, pela editora "Le Lombard".

Outro grande sucesso na carreira de Jean Van Hamme foi a criação, em 1984, da série "XIII", ilustrada por William Vance. Baseada no livro "A identidade limite" de Robert Ludlum, esta série é construída em redor de uma personagem em busca da sua verdadeira identidade. Pelo meio, surgem intrigas excitantes, tentativas de assassínio, escândalos e conspirações governamentais e militares, conjugadas com cenas de acção que decorrem em cenários envolvidos em grande secretismo e mistério.

Durante aproximadamente um ano, entre Abril de 1986 e Março de 1987, Jean Van Hamme exerce o cargo de director da editora "Dupuis". Em 1988, Van Hamme ganha um prémio referente ao melhor argumento, pelas séries "XIII" e "Thorgal".

A par das séries atrás referidas, Jean Van Hamme continua a criar outras séries, entre as quais, a série de ficção política "S.O.S. Felicidade", com ilustração de Griffo, a qual foi publicada pela editora "Dupuis". Entretanto, Van Hamme inicia a adaptação, para as pranchas de banda desenhada, dos romances de "Largo Winch", os quais havia começado a escrever a partir de 1976, e cuja série vai resultar num novo grande sucesso, ilustrada por Philippe Francq. Até ao momento, foram publicados 8 álbuns desta série, cujo sucesso conduziu, inclusivamente, à produção de uma série de televisão, no início de 2000, com actores verdadeiros. Em 1992, Van Hamme escreve histórias da série "Os mestres da cevada", com ilustração de Francis Vallès, sobre a dinastia dos cervejeiros belgas.

Em 1996, Jean Van Hamme (no argumento) inicia uma colaboração com o desenhador Ted Benoit, juntos produzindo e fazendo renascer duas novas aventuras da série "Blake e Mortimer", criada por Edgar Pierre Jacobs, em 1946, e cujas histórias haviam sido interrompidas, quando da sua morte, em 1987. Assim, até ao momento, foram produzidos, por estes dois autores, os seguintes dois álbuns desta famosa série de culto: "O caso Francis Blake", em 1996 ; "O estranho encontro", em 2001.

Jean Van Hamme é, desde 1992, o presidente do Centro Belga de Banda Desenhada, sediado em Bruxelas. Em jeito de conclusão e de síntese, e reforçando aquilo que se disse no início, pode-se e deve-se afirmar que Jean Van Hamme constitui, actualmente, uma referência obrigatória no panorama da banda desenhada europeia. Com efeito, quer pelo seu excelente sentido narrativo e de encenação, quer pela sua enorme versatilidade e imaginação na abordagem de vários géneros de aventuras, Jean Van Hamme é responsável pelo aparecimento de alguns dos maiores sucessos da banda desenhada contemporânea.

Contribuição de Alexandre Ribeiro